Aprender
a alfabetizar na teoria e na prática
Perspectivas
Ceale apresenta pesquisa que revela que os cursos de Pedagogia não sustentam a
prática nas salas de aula
“E agora, o que eu
faço?”. Essa era a questão que a professora do curso de Pedagogia da
Universidade do Vale do Rio Doce (UNIVALE), Erciléia Batista do Espírito Santo,
escutava de seus ex-alunos quando esses acabavam de assumir turmas de
alfabetização. Inquieta com a situação, Erciléia decidiu empreender uma
pesquisa de mestrado para aperfeiçoar seu trabalho docente. E acabou
descobrindo que é necessário transformar todo o currículo dos cursos de
Pedagogia no Brasil.
A dissertação Dos saberes teóricos aos saberes da ação: a construção de
práticas pelos professores alfabetizadores foi o tema do
último Perspectivas Ceale, que ocorreu no dia 10 de novembro, na Faculdade de
Educação da UFMG. Juntamente com a pesquisadora do Ceale Sara Mourão e com as
professoras Daniela Montuani e Maria Elisa Grossi, Erciléia Batista discutiu a
dificuldade do egresso do curso de Pedagogia em aproveitar o que aprendeu
durante a graduação no trabalho posterior como professor alfabetizador.
Trabalho de campo
“Quais saberes os professores alfabetizadores mobilizam e como os
colocam em prática?”. Essa foi a pergunta que orientou a pesquisa da professora
da UNIVALE. Para respondê-la, ela foi ao local da ação: acompanhou, por um ano,
três turmas de 1º ano do Ensino Fundamental de uma escola estadual da cidade de
Governador Valadares (MG) e seus respectivos professores. Após um mês de
observação, constatou que, se o trabalho dos educadores continuasse sendo
realizado daquela maneira, cerca de um terço das turmas de 30 alunos não
estaria alfabetizada até o final do ano, como já era de costume na escola.
Decidiu, então, intervir.
A pesquisadora organizou encontros para discutir o material Instrumentos
da Alfabetização, produção do Ceale que já era adotada pelos
professores da escola. Erciléia Batista descobriu que os educadores não
utilizavam os cadernos de instrução de forma completa, assim como não dominavam
vários conceitos importantes ali abordados, como o de consciência fonológica.
Os saberes teóricos dos alfabetizadores eram fragmentados e era basicamente a
experiência prática que orientava seu trabalho pedagógico.
Nas reuniões, que se estenderam por cinco meses, Erciléia Batista
recuperou teorias ensinadas na graduação e discutiu a aplicação de exercícios,
fazendo, inclusive, demonstrações das atividades para as professoras. Ao final
do ano, praticamente todas as crianças estavam alfabetizadas.
Possibilidades em discussão
A conclusão a que todas as participantes da mesa chegaram é de que
a prática e a teoria estão mal articuladas nos cursos de graduação em
Pedagogia. E de que essa é uma questão generalizada no Brasil. Mas como fazer
melhor?
Para Sara Mourão, um possível caminho foi apontado na própria
pesquisa de Erciléia Batista: a formação continuada. Segundo a pesquisadora do
Ceale, a experiência do Centro na promoção de cursos nessa modalidade tem sido
eficaz e traz resultados positivos. O desafio é desenhar o modelo da formação
continuada na formação inicial dos pedagogos.
O reposicionamento de disciplinas práticas durante o curso de
graduação foi uma das idéias discutidas pelas professoras. Outra sugestão
apresentada foi a inclusão de estágios supervisionados pelos professores na
grade de ensino dos cursos de Pedagogia. O Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência (Pibid) foi apontado como uma iniciativa interessante
nesse sentido.
Uma professora da educação básica presente na plateia falou sobre
sua experiência de formação durante o trabalho na escola Balão Vermelho, em
Belo Horizonte. A prática da sala estava sempre em discussão pelos professores,
que também debatiam textos teóricos como os de Emilia Ferrero. Pareceu a todos
que os saberes teóricos, afinal, só são realmente assimilados quando caminham
junto com a prática pedagógica.
Fecha-se um ciclo
O Perspectivas Ceale com a convidada Erciléia Batista marcou o
final do ciclo de conferências promovido pelo Ceale no ano de 2011. Em breve, a
programação para o ano de 2012 estará disponível aqui no Portal Educativo
Ceale.
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